O movimento das micro cervejarias artesanais no Brasil começou no início deste século mas só agora está ocorrendo um boom tanto entre os consumidores, com o surgimento de novas marcas que disputam espaços nas prateleiras de supermercados, como na exposição em eventos gastronômicos e lojas especializadas.
Os índices positivos sobre as vendas das cervejas artesanais (craft beer) tem se mostrado tentador para qualquer empreendedor que tenha coragem de se aventurar nesse ramo. Além disso, de 5 anos para cá, novas frentes de capacitação técnica e profissional abriram nos principais centros urbanos, tornando mais acessível para o público leigo interessado entender esse mercado e sua produção.
Não se espante se daqui 5 anos, tivermos um cenário muito diversificado, positivo e acirrado, no qual muitos mais rótulos irão surgir e novos consumidores entrarão neste mercado.
A dúvida é como vai ficar as grandes e as pequenas cervejarias nessa mudança e como podemos prever o que irá acontecer nestes dois mundos cervejeiros?
Pode ser mais simples que parece, pois temos exemplos de como a grande indústria cervejeira se comporta quando os pequenos incomodam, vide caso Baden Baden e Eisenbahn, que fazem parte do Grupo Schin que foi comprada pelo Grupo Japonês Kirin. Fatalmente isso irá acontecer com muitas marcas pequenas, tanto a AMBEV como outros grandes do setor irão fazer propostas tentadoras para as pequenas cervejarias que ganham destaque no cenário nacional ou internacional como a Wäls, a cerveja mineira premiadíssima para que seja incorporadas e passem a ter uma produção global.
O receio dessas aquisições é uma só, a perda da qualidade e originalidade pois a partir do momento que algo artesanal e pequeno feito com paixão e alma se percam no momento que é tomado pelos grandes grupos que visam apenas lucros e espaços maiores no mercado. A chance real da perda da identidade e do romantismo passa a ser um risco quase certo, tornando comum um produto que nasceu com o propósito de ser diferenciado.
Ainda é cedo para conclusões mais assertivas, mas é visível que o consumidor dita as regras do mercado e as cervejas artesanais estão sendo vistas como um portal para um novo mundo de sabores e qualidade jamais presenciada por nós acostumados a beber as velhas Brahmas, Skols e Antarcticas da vida.
Essa mudança de hábito crescente entre os consumidores pelas craft beers tem impactado no consumo das cervejas industriais que mostrou forte redução em 3% na sua produção no último ano contra o crescimento anual da procura pelas artesanais na faixa dos 20%.
O consumidor da cerveja artesanal é muito diferente do tradicional, pois sempre busca conhecimento, a história e o conteúdo da cerveja apreciada e quanto mais inusitado tudo isso for, mais especial ela será. Por isso dificilmente um pequeno grupo de cervejas artesanais serão eleitas e fidelizadas, pois sempre haverá milhares de cervejas dentro de cada tipo ao qual cada uma delas terá a sua própria alma, paixão e sabor único de quem a produz.
O olhar sobre este novo consumidor é que irá determinar o sucesso de uma cerveja e as cervejarias autênticas e fiéis aos seus princípios que lutaram para achar o ponto e a receita perfeita serão as mais pedidas e preferidas.
As cervejarias que entenderem como tratar esse cliente, se diferenciando, criando experiências cada vez mais intensas, ofertando caminhos e novas possibilidades vão se consagrar entre os consumidores, deixando de ter meros clientes e passando a ter verdadeiros Fãs.